sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

PONTO DE VISTA - by Timóteo Sampaio

A MÃE:
- Eu estava nos fundos da minha casa, ouvi um barulho na porta da sala, pensei a princípio que poderia ser o meu filho que havia chegado e aberto a porta. Mas veio então um segundo barulho, e com mais força ainda. Achei aquilo estranho e fui verificar o que estava acontecendo. Para minha surpresa um homem havia arrombado a porta e já estava dentro da sala. Não sei se por instinto ou por medo, gritei o nome do meu filho que mora em frente. O ladrão ficou assustado, pôs a mão na boca e disse “calma tia”, mas eu instintivamente gritei de novo.
- O ladrão então recuou, saiu para o quintal, e ia ir embora, quando deu de cara com meu filho. Foi uma coisa de cinema. Meu filho não deu tempo ao ladrão de perceber o que estava acontecendo, desceu nele a porrada, mas tão rápido, tão depressa, que foi tempo só de ver os punhos voando e o ladrão caindo. Acho que para não ser apanhado em flagra pela polícia por agressão ele rapidamente correu e entrou de novo na casa dele.

O VIZINHO:
- Ouvi a mãe do rapaz chamando por ele. Ouvi quando ele abriu o portão e os passos apressados indo em direção a casa dela. Mas quando abri o portão ele já estava de volta. Nervoso, sem olhar para trás abriu o portão da casa dele e entrou sem fechar. Então eu vi o outro homem caído no quintal da casa da minha vizinha, mãe dele.
- Deve ser algum amigo que estava lá, passou mal e a mãe gritou o filho para ajudá-la a socorrer.
O LADRÃO:
- Estava passando na rua, quando vi uma senhora chegando em uma janela com grade, e dizendo: - Jesus, tem misericórdia de mim. Olhou para um lado para o outro e repetiu: - Jesus, tem misericórdia de mim.
- Imaginei que ela estava com problemas, quem sabe sozinha trancada pelo marido, até mesmo sofrendo alguma violência doméstica. Entrei pelo portão que não estava trancado e fiquei parado na porta ouvindo. Novamente a mulher repetiu: - Jesus, tem misericórdia de mim. Não tive dúvidas, arrombei a porta para ver o que estava acontecendo. Para minha surpresa a mulher, veio com uma vassoura na mão, quando me viu gritou pelo nome de alguém. Pedi para que ela não gritasse, mas antes que eu pudesse falar para ela que eu não era ladrão, ela gritou outra vez o mesmo nome. Imaginando que ela estava com alguém, e que mesmo que estivesse apanhando ou sei lá o que não me ouviria, virei as costas para ir embora. Mas antes que pudesse pensar, vi uns punhos nervosos me nocauteando e acordei no SAMU com um monte de polícia ao meu lado. Mais tarde fui saber que a mulher era evangélica e ficava orando alto sozinha dentro de casa, e que o filho dela que me nocauteou.
O FILHO:
- Estava tranqüilo no computador da minha casa fazendo alguns trabalhos, numa vontade imensa de ir ao banheiro, mas como estava dentro de casa mesmo, deixei a vontade apertar até não agüentar mais. Quando já estava para explodir, fui em direção ao banheiro. Com as calças nos tornozelos ouvi minha mãe que mora ao lado me gritar.
- Caraca! Tinha que ser logo agora? Termino e vou lá. Mas na hora que eu ia... olha minha mãe gritando de novo. E um grito de aflição. Subi as calças com o olho arregalado, e a veia do pescoço quase estourando. Cheguei na varanda da minha casa, e olhei para a casa da minha mãe, vi um camarada saindo da sala e ela atrás dele. Ladrão, só pode ser, pensei. Sem pensar duas vezes, corri abri o portão e atravessei a rua. No meio da rua minha barriga me lembrou o estado em que eu estava. Quando cheguei no quintal da minha mãe, dei de cara com o ladrão, duas vezes maior que eu. Não teve jeito, fiz nas calças.
- Só que o susto foi tão grande, que enquanto as coisas desciam eu esbofetei o cara. Olhei para fora, meu vizinho já ia abrindo o portão. Saí correndo pra minha casa outra vez. É ruim de eu deixar ele me ver todo “marronzado” heim.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

FERNANDO SALGADO – by Timóteo Sampaio

Que Mineiro gosta de praia do Espírito Santo ninguém duvida, e que de lá vem para nossa querida belzonte muitas histórias também não é de se duvidar. Van lotada indo para Jacareípe, muita farofa e refrigerante para a diversão da moçada, e de vez em quando, claro, um pum órfão de pai e mãe ( é incrível como isso acontece ).
Na janela da Van o Waguinho, coitado, nunca tinha visto o mar na vida, a ansiedade era tanta, que ele nem sequer desceu para ir ao banheiro na parada, para não perder o lugarzinho na Janela e ver bem de perto o marzão quando estivesse passando pelo litoral. Depois de 9 horas de viagem e uma longa e cansativa ansiedade, o prêmio, enfim o mar, mas também o nosso tema predileto da viagem. O Waguinho coloca a cabeça do lado de fora e grita:
- Nossa! É grande mesmo heim.
Não precisava acontecer mais nada de bom na viagem, só esse triste ( pra ele ) e feliz ( pra nós ) comentário já nos rendeu excelentes piadas, músicas e teatros.
Mas nada se comparado a do Fernando. Gordinho, sem habilidades naturais e como manda o figurino, o nosso bobo da corte na rua Adelaide.
Depois de 18 anos vendo o mar apenas na TV e por fotos vem a notícia pelo seu Manoel. – Vamos viajar.
A ansiedade de ver o mar abalou o rapaz, comentava com todos no bairro que estava indo à praia. Pediu um short pro Ney, um boné pro Alan, e a bola do Lú.
Chegando a praia o Fernando não resistiu a tentação. Lá foi aquele gordinho engraçado entrar naquela infinitude de água. Foi entrando, entrando, entrando até ver o pessoal “cortando” onda. Aquilo era a coisa mais incrível do mundo. A onda vinha e você pulava para ela passar, os mais feras, cortavam ela no mergulho.
Lá vai o Fernando cortar onda, e Deus caprichou pra ele já que era a primeira vez. Os surfistas de plantão correram para pegar uma beiradinha nela, mas o Fernando não, estava no olho do furacão. Quando ela veio de lá e todos pularam ele não conseguiu sair do chão, a onda bateu forte naquelas pernas e o Fernando foi rodopiando com a onda até ela quebrar. Engoliu quase meio mar. Saiu de lá com o olho vermelho, o short no meio das pernas e um sorrisão no rosto. Gritou tão alto que a praia toda ouviu:
- Nossa, pai! Não é que é salgado mesmo!!!

Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

EXPERIENCIA DE QUASE MORTE. - by Timóteo Sampaio

Estava um dia desses a noite sentado no sofá da minha casa sozinho assistindo a um futebolzinho, comendo um pão de queijo e tomando uma coca-cola geladinha. Minha esposa havia saído para comprar algumas coisas para a nossa casa e iria demorar. Aproveitei para dar uma relaxada naquele dia, já que não tinha compromisso a noite, e a jornada do trabalho tinha sido pesada. O jogo até estava interessante, o pão de queijo minas é o melhor que tem, e a coca-cola...meu Deus, eu oro para que o cara que inventou a coca-cola vá pro céu.
Sabe quando está tudo bem, e de repente lhe vem uma sensação de que algo ruim vai acontecer? Era isso que me ocorria. Mas eu parava e pensava: meu Deus, o que poderá acontecer de ruim comigo? Será que é com a minha esposa? Liguei na hora para o celular dela, e ela disse que estava tudo bem, já tinha comprado tudo e estava a duas quadras da nossa casa. Vinha com uma amiga e com o irmão dela que havia encontrado no supermercado. Desliguei e liguei para minha mãe. Dez horas da noite? Estava fazendo madrugada, sabe como são pessoas antigas né? Dorme cedo, acorda cedo. E assim foi também com meus irmãos, todos maravilhosamente bem, mas a sensação de que algo ruim ia acontecer breve, estava cada vez mais presente e intensa na minha mente.
Será que meu time vai perder? Já são quarenta minutos do segundo tempo, zero a zero e o empate nos coloca na final. O time adversário ainda não chutou pra gol. Não pode ser.
Foi a conta de sentar no sofá, relaxar e pum!!! Uma escuridão devastadora invadiu a sala. Era impressionante como já havia lido a respeito de experiência de quase morte, mas não acreditava que poderia passar por isso. Tudo parecia tão real. Sentia meu corpo mas não podia vê-lo, escutava tudo o que as pessoas falavam lá na rua. Gritei, mas parece que ninguém podia me ouvir. Assim como tinha lido sobre experiências de outras pessoas, toda a minha vida passou pela minha mente ali naquele sofá. Meus tempos de criança, minha primeira namorada, os shows que fazia, minha guitarra azul, o dia em que conheci minha esposa, até o dia em que nos casamos. Lembrei me do meu time que a tantos anos não ganhava nada, e agora que estava a poucos minutos de uma final eu bati as botas e não saberei como ficou o resultado.
Agora estava eu ali, sentindo o sofá, até o controle da TV e o gosto do pão de queijo eu sentia, mas estava numa total escuridão, e ninguém podia me ouvir.
Comecei a imaginar como seria a minha vida agora no céu, não sei tocar harpa, mas se tiver uma guitarra lá quero montar uma banda de rock. Quem sabe “THE ANGELS”? e por falar neles, porque ainda não tinham vindo me buscar? Iam me deixar ali sendo torturado pelas lembranças de minha vida até quando? Dizem que no além não há tempo, então pode ser que meu time já foi campeão a muito tempo e eu nem comemorei ainda. Decidi então sair daquela escuridão e seguir no caminho da luz, como tantos outros que já haviam ido antes de mim fizeram.
Levantei-me e tive a sensação de Ter ouvido o controle remoto cair, tive a sensação de sentir a coca-cola derramar na minha perna. Acho que ainda não me adaptei ao mundo espiritual. Ainda estou preso as coisas terrenas. Andei em meio aquelas trevas e com medo ainda, olhei bem pra frente e vi a luz. Fraca no alto e redonda, mas tinha certeza que aquela era a direção a seguir. Então sem reclamar resolvi aceitar a minha condição de “presunto” e seguir o meu destino.
Aquela luz no alto e redonda, colorida me era familiar. Lembro de já tê-la visto em algum lugar, mas agora isso não era mais importante, ali no além as coisas terrenas tinham que ser esquecidas.
Enquanto caminhava em direção a luz, ouvi vozes como se viessem do lado de fora da minha casa, barulhos de gente correndo, mas aquela hora da noite? Não seria possível. É impressionante como tinha a sensação de ainda estar dentro da minha casa.
Quando finalmente alcancei a luz, ela estava acima da minha cabeça. Tinha que escalar uma espécie de precipício liso para poder atravessar por ela. Enquanto escalava aquilo que julgava ser minha liberdade pro céu, ouvi a voz de minha esposa, parecia estar conversando com algum homem. Mas já? Nem esperou eu gelar e já está com outro? Ah não! Vou Ter que voltar a noite pra puxar o pé deles. Fiquei ali tentando ouvir o papo. Será que é alguém que eu conheço? Ai meu Deus! fiquei ali pendurado na divisão do mundo real e espiritual concentrado para ouvir a conversa. Então ouvi a voz da minha doce esposa gritando:
- Seu pivetinho! Da próxima vez que te pegar desligando o padrão de luz vou te dar um cocão bem dado, e click. A luz voltou, eu levei um baita susto, caí da janela do meu banheiro e bati a cabeça no vaso. Quase morri...

Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

PASSARINHO - by Timóteo Sampaio

Sentei me na escada pra te ver
E fiquei estatuado ao te admirar
Como pode tão pequeno ser, tão fragil vida
Tão belo canto ter?

Como me alegro te ouvir, passarinho
Mesmo encarcerado,
Não desanima, não pára, agradece pelo belo dia
Faz o que eu ainda não fiz
E embalado de tão linda melodia

Nunca tiveste um mestre de canto
Ainda assim voce jamais desafina
Atinge qualquer nota proposta
Cantando em fusas, colcheias quiálteras e sextinas

andam dizendo, passarinho
que voce é o fruto de um acaso

Mas eles não sabem responder, passarinho
Quem foi que te criou
Falam cada asneira, cada bobeira
Que se tu entendeste, certamente choraria
E de tão triste desabafo, faria outra bela melodia

Ah se eles te ouvissem, passarinho
Gostaria de ver, e admirar
Quando embalado de uma Bossa
Desse e eles a resposta
Quem te ensinou a cantar...



Timoteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

MINEIROS - by Timóteo Sampaio

- Mais num é boa aquela música cumpadi?
- A qual ocê si referi?
- Aquela assim...como é mesmo?
- A letra dela fala mais ou menos assim...
- Nossa, como é mesmo?
- Puxa, essa música todo dia toca naquela radia...como é mesmo o nome dela?
- Aquela que tem um homi que fala assim...
- Cê num sabe não cumpadi?
- Me diz quem canta a música homi, quem sabe eu me alembre?
- São aqueles meninos, sô...
- Aqueles que eram pobre veio de Goiania e hoje são tudo famoso?
- Ah, sim...qual deles?
- Tem os...como se chamam mesmo?
- Não, num deve de ser esses.
- Puxa, a letra fala de uma muié, que vai embora e o rapaiz fica apaxonado.
- Ah sim, lembro, quem canta são os...ah não nessa o rapaiz fica com dor de cutuvelo, num deve di sê.
- Dá mais uma dica cumpadi.
- Olha, a música começa com um toque de viola...
- Lembrô?
- inda não, mas continua.
- Primeiro só um começa cantando, depois entra o segundo.
- Hum...ainda num dá pra sabê.
- São aqueles mininos sô, que sempre usam umas calça apertadinha, parece que as coisa vão explodir, com umas camisa pra dentro, cinto grande e um chapelão.
- Num lembrô?
- Inda não homi.
- Passô esses dia num programa de televisão, eles com aquele apresentadô, sabe qual é? Que fica todo domingo falando com os artista.
- Puxa...as veis me vem o nome mas num cunsigo alembrar.
- Võ sofejá um pedacinho dela e ve si ocê alembra.
- Trá lá lí lá...
- Lembrô?
- Uai cumpadi, isso num é música internacionar?
- É sô, parece que os gringo gostô dessa música, e fizeram uma versão em ingrêis sô.
- Mais quis cabra mais sem vergonha heim cumpadi? ouviu nossa música aqui depois passa pruma língua que nóis num intendi e sai tocando na radia pra nois ouvi.
- Pois é. Mais e aí, alembrô?
- Inda não rapaiz.
- Ah, mais uma dica. Na capa dos disco aparece sempre um do lado do outro, numa fazerndona, com uns boisão no fundo...
- Alembrô?
- Rapaiz...
- Disisto cumpadi, vamo entrá e eu coloco o disco pra nois ouvi.


Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

DOR DE BARRIGA - by Timóteo Sampaio

Sábado à noite, e está tudo lindo, tomei um banho e me vesti bem, pois era dia de namorar.
- Menino, come alguma coisa antes de sair, nunca se sabe, disse minha mãe.
Resolvi obedecer e fui a mesa. Uma baita vitamina de abacate acabada de ser servida.
- hum, ótimo adoro isso. Tres copos de uma vez, parecia que era a mais gostosa que
eu já havia bebido. Pronto pra sair quando meu irmão me aparece com um baita pão com ovo. Vitamina de abacate, mais pão com ovo? – ah, se não matar engorda.
Sai correndo pois ouvi o barulho do onibus descendo a rua, foi a conta de descer correndo os morros do bairro e pular pra dentro do busão.
Desce morro sobe morro, curva a direita curva a esquerda, passa quebra-mola a mil por hora, devia ser a ultima corrida e o motorista já estava louco pra chegar em casa também. Senti numa das curvas que dentro da barriga tudo revirava, causando uma mistura homogenia. Abacate, pão, ovo...
Não demorou muito e o sinal de alerta mandou avisar: - 5 minutos, era o tempo maximo que eu teria para ter uma vida de rei.
- Meu Deus! Trono a vista...
Comecei minha matematica dentro do onibus mesmo. no minimo mais 7 minutos
Para chegar no meu ponto, mais uns 15 a pé até a casa da namorada, mais uns 5 para cumprimentar todo mundo e dar uma desculpa para entrar no banheiro. 7+15+5 = desespero!!! Enquanto fazia minha continha, uma simpática gota de suor me desceu a fronte.
Pensava em toda as possibilidades que tinha, e a mais obvia foi: descer um ponto antes e orar a Deus para que conseguisse um banheirinho qualquer.
Coloquei em prática minha ideia. Puxei a cordinha do onibus, e nem reparei que ela ficou na minha mão. Pronto! bar a vista. Enquanto me dirijia ao bar pensei ( ainda estava conseguindo pensar ) em uma boa desculpa para pedir o banheiro.
- Moço, cê tem coca?
- Tudo bem, pode ser Picolino mesmo.
- Aí, posso usar seu banheiro?
Nem vi a hora que entrei no banheiro e percebi que só havia um mictoriozinho. Amaldiçoei aquele lugar.
Fingi naturalidade, agradeci ( xinguei em pensamento ) o dono do bar e sai. O picolino virou um meteorito ladeira abaixo.
O desespero continuou, mas uma luz raiou; o hospital da cidade. Ficava a uns 10 minutos a pé, e uns 3 correndo.
Engatei quinta e perna pra que te quero. Estava me sentindo o Barrichello enquanto o cabelo despenteava, a camisa saia amarrotada pra fora da calça e o desodorante vencia, quando vi uma cena que outrora me sentiria honrado mas naquele momento era um baita problema: meu pastor! Ele abriu um sorriso levantou a mão, e eu passei por ele a trezentos kilometros por hora com um sorriso amarelo e gritei: - passssssenhoooooor...
Dele eu ouvi apenas a paz do.., o senhor não deu pra ouvir pois já estava a alguns metros e havia dobrado a esquina. Depois eu explico.
A dor aumentou, e meu sistema de alerta me dizia, que se não resolvesse o problema em segundos, minha roupa debaixo mudaria de cor.
Assim como um oásis no deserto vejo o mais lindo luminario da minha vida: “Hospital São José”. Não sei quem foi são José, mas se não fosse evangélico com certeza seria devoto dele a partir daquele dia.
Passei a mão no cabelo, coloquei a camisa pra dentro da calça, enxuguei o suor com a manga da camisa, desembaçei os oculos e entrei no hospital.
Hoje fico tentando imaginar a minha cara. As coisas me avisando: - estou indo, estou indo, e eu interpretando uma naturalidade invejável a qualquer ator de Hollyood, digno de oscar. Cheguei a recepcionista, esperei ela terminar uma ligação de 10 segundo que pareceu dez horas e dei um “agradável” boa noite, onde fica o banheiro? No final do corredor? Ok, obrigado. Um corredorzinho de 5 metros, ou cinquenta kilometros estava a minha frente. Corredor cheio, eu querendo sair correndo a mil por hora ali, mas era um hospital tinha que ir passo a passo lentamente. Depois de 2 segundos ( ou duas horas no meu pensamento ) cheguei a uma portinha com uma placa escrita cavalheiros, mas acho que se tivesse escrito damas, criança, velhos, sei lá oque, eu teria entrado do mesmo jeito. Entrei, tranquei a porta, ou não tranquei? Pronto agora eu era o rei do mundo. Naquele momento o sol parou, ( do outro lado lá no Japão mas parou ) borboletas e fadas se misturavam voando ao meu redor, coelhinhos saltitavam e passaros cantavam. Naquele momento o Senna era Tri, o Brasil era penta e a poupança... bem a “poupança" não estava muito bem.
20 minutos depois...
Depois de respirar, gastar a metade do papel toalha enxugando o rosto, coloquei a camisa pra dentro e sai de dentro daquele pequeno comodo do qual eu jamais me esquecerei.
Contemplei a lua, nunca a tinha visto tão grande, e nem sabia que havia tantas estrelas no céu. Subi o morro todo bem devagar e respirando lentamente aquela brisa.
Cheguei toquei a campainha. Ela me olhou e não entendeu a roupa amarrotada, o cabelo pra cima, a calça torta, a mão molhada e um belo sorriso no rosto.
- Boa noite meu bem.
- Boa, muuuito boa.


Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

O SANTO - by Timóteo Sampaio

Terezinha vinha do rio, bacia de roupas se equilibrando na cabeça, a saia comprida e os pés no chão. Fadiga para chegar rápido em casa e ainda fazer o almoço para os quatro filhos e o marido que chegaria da roça. Devota desde criança, colecionava santos de todos os tipos. Um para a saúde das crianças outro para a do marido, um para ficar pendurado no pescoço como proteção, outro na porta da casa contra ladrão. Até pra se uma das galinhas parasse de botar tinha um santinho.
Vinha pensando na vida quando sentiu os pés descalsos e úmidos do rio pisar em algo volumoso e frio. Abaixou-se colocou a trouxa no chão e pegou aquilo que pareceu ser uma estátua.
- Um santo! Exclamou.
Mas a figura não tinha um rosto ou um corpo definido. Estivera ali há anos, talves decadas, ou quem sabe os colonos quando por ali passaram não o perderam.
- Vou levar ao padre no domingo, quem sabe não é um bom santo e um bom sinal. Colocou no bolso do vestido e saiu rumo a casa.
No meio do caminho ainda pensando em quem seria aquele santo, resolveu passar no terreiro de nhá Benta, afinal ela tinha tantos santos, quem sabe não conhecia aquele.
- Dia nhá Benta
- Dia minha fia, veio se benzer?
- Não, vim trazer um santo pra ver se a senhora sabe quem é.
Tirou o santo do bolso e colocou na mão da negra Benta que olhou, analizou, coçou o queixo e a cabeça, virou-o de um lado para o outro e disse: - olha minha fia, tá parecendo um dos orixás, mas não sei identificar qual. Se pelo menos o rosto estivesse claro.
Terezinha pegou o santo deu um “brigado” colocou-o no bolso outra vez, virou-se fez o sinal da cruz e pensou consigo mesmo: Orixá? Ave cruz-credo!
Saiu dali como se tivesse visto o próprio tinhoso, pensou em jogá-lo no córrego mas não teve coragem. E se não for? No domingo o padre me fala.
Quebrou a ladeira, e lá vinda a comadre Aparecida. Ela também é devota esntende muito de santo, quem sabe ela não vai conhecer.
- Dia comadre.
- Dia.
- como tá o rio lá embaixo?
- Bem limpo e tranquilo, deu pra lavar a roupa todinha bem rápido.
- Até achei um santinho, mas não conheço ele, vê se você já
viu esse comadre. A Benta diz que é orixá, mas valha minha santa Terezinha disso. A Cida deu uma olhada, esfregou os olhos, desembaçou o óculos e os pendurou na ponta do nariz.
- Parece são Francisco, mas não há sinal de ser careca. Se
tivesse um menino poderia ser Santo Antonio, mas tá muito gordinho pra ser qualquer um dos dois. É comadre, domingo o padre descobre. Desceu a ladeira e se foi rumo a casa.
Quase chegando em casa lembrou de seu Zé. Dizem que ele não é católico, nem é da igreja de aleluia, mas tem a sua fé. Quem sabe ele não entende de santo.
Depois de longo dialogo, e de varias baforadas do seu Zé, passando pra lá e pra cá o tal santo, falou que gordinho e baixinho só podeia ser um tal de Buda.
- Buda, minha nossa senhora? Nunca ouvi dalar nesse santo. Que milagre será que ele faz, e pra que causa ele atende? Vou deixar para que o padre me esclareça no domingo.
No determinado domingo Terezinha acorda bem cedo e vai rumo à igreja, terço numa mão sacolinha na outra e o dito santo dentro. Rezou a novena fez promessa e o nome do Pai. Quando todos estavam a sair, correu na contra mão das pessoas para chegar junto ao padre.
- Padre João! Chamou ela. – padre João, presciso falar com o senhor.
- Sente minha filha, abra seu coração e não esconda nada, se quiser podemos ir ao confessório.
- Não seu padre, não será necessário, só quero te mostrar um santinho que achei quando vinha do rio. A nhá Benta diz que é um orixá. comadre Cida diz que pode ser São Franciso e seu Zé diz que é um tal de Buda. Fico com medo de pedir pro santo errado e minhas preces não serem atendidas. O senhor sabe que santo é esse?
O padre deu uma olhada naquela pequena figura, virou olhou analizou e lhe disse:
- Cara irmã Terezinha, isso é só uma carranca, despediu e com um sorriso atendeu uma jovem devota que lhe esperava.
- Terezinha colocou o santinho dentro da sacola e voltou satisfeita pra casa. Colocou a estátua entre as outra olhou alegre e saiu pro quintal.
- Agora é só descobrir a causa, e rezar pra São Carranca.




Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com