quinta-feira, 18 de outubro de 2007

DOR DE BARRIGA - by Timóteo Sampaio

Sábado à noite, e está tudo lindo, tomei um banho e me vesti bem, pois era dia de namorar.
- Menino, come alguma coisa antes de sair, nunca se sabe, disse minha mãe.
Resolvi obedecer e fui a mesa. Uma baita vitamina de abacate acabada de ser servida.
- hum, ótimo adoro isso. Tres copos de uma vez, parecia que era a mais gostosa que
eu já havia bebido. Pronto pra sair quando meu irmão me aparece com um baita pão com ovo. Vitamina de abacate, mais pão com ovo? – ah, se não matar engorda.
Sai correndo pois ouvi o barulho do onibus descendo a rua, foi a conta de descer correndo os morros do bairro e pular pra dentro do busão.
Desce morro sobe morro, curva a direita curva a esquerda, passa quebra-mola a mil por hora, devia ser a ultima corrida e o motorista já estava louco pra chegar em casa também. Senti numa das curvas que dentro da barriga tudo revirava, causando uma mistura homogenia. Abacate, pão, ovo...
Não demorou muito e o sinal de alerta mandou avisar: - 5 minutos, era o tempo maximo que eu teria para ter uma vida de rei.
- Meu Deus! Trono a vista...
Comecei minha matematica dentro do onibus mesmo. no minimo mais 7 minutos
Para chegar no meu ponto, mais uns 15 a pé até a casa da namorada, mais uns 5 para cumprimentar todo mundo e dar uma desculpa para entrar no banheiro. 7+15+5 = desespero!!! Enquanto fazia minha continha, uma simpática gota de suor me desceu a fronte.
Pensava em toda as possibilidades que tinha, e a mais obvia foi: descer um ponto antes e orar a Deus para que conseguisse um banheirinho qualquer.
Coloquei em prática minha ideia. Puxei a cordinha do onibus, e nem reparei que ela ficou na minha mão. Pronto! bar a vista. Enquanto me dirijia ao bar pensei ( ainda estava conseguindo pensar ) em uma boa desculpa para pedir o banheiro.
- Moço, cê tem coca?
- Tudo bem, pode ser Picolino mesmo.
- Aí, posso usar seu banheiro?
Nem vi a hora que entrei no banheiro e percebi que só havia um mictoriozinho. Amaldiçoei aquele lugar.
Fingi naturalidade, agradeci ( xinguei em pensamento ) o dono do bar e sai. O picolino virou um meteorito ladeira abaixo.
O desespero continuou, mas uma luz raiou; o hospital da cidade. Ficava a uns 10 minutos a pé, e uns 3 correndo.
Engatei quinta e perna pra que te quero. Estava me sentindo o Barrichello enquanto o cabelo despenteava, a camisa saia amarrotada pra fora da calça e o desodorante vencia, quando vi uma cena que outrora me sentiria honrado mas naquele momento era um baita problema: meu pastor! Ele abriu um sorriso levantou a mão, e eu passei por ele a trezentos kilometros por hora com um sorriso amarelo e gritei: - passssssenhoooooor...
Dele eu ouvi apenas a paz do.., o senhor não deu pra ouvir pois já estava a alguns metros e havia dobrado a esquina. Depois eu explico.
A dor aumentou, e meu sistema de alerta me dizia, que se não resolvesse o problema em segundos, minha roupa debaixo mudaria de cor.
Assim como um oásis no deserto vejo o mais lindo luminario da minha vida: “Hospital São José”. Não sei quem foi são José, mas se não fosse evangélico com certeza seria devoto dele a partir daquele dia.
Passei a mão no cabelo, coloquei a camisa pra dentro da calça, enxuguei o suor com a manga da camisa, desembaçei os oculos e entrei no hospital.
Hoje fico tentando imaginar a minha cara. As coisas me avisando: - estou indo, estou indo, e eu interpretando uma naturalidade invejável a qualquer ator de Hollyood, digno de oscar. Cheguei a recepcionista, esperei ela terminar uma ligação de 10 segundo que pareceu dez horas e dei um “agradável” boa noite, onde fica o banheiro? No final do corredor? Ok, obrigado. Um corredorzinho de 5 metros, ou cinquenta kilometros estava a minha frente. Corredor cheio, eu querendo sair correndo a mil por hora ali, mas era um hospital tinha que ir passo a passo lentamente. Depois de 2 segundos ( ou duas horas no meu pensamento ) cheguei a uma portinha com uma placa escrita cavalheiros, mas acho que se tivesse escrito damas, criança, velhos, sei lá oque, eu teria entrado do mesmo jeito. Entrei, tranquei a porta, ou não tranquei? Pronto agora eu era o rei do mundo. Naquele momento o sol parou, ( do outro lado lá no Japão mas parou ) borboletas e fadas se misturavam voando ao meu redor, coelhinhos saltitavam e passaros cantavam. Naquele momento o Senna era Tri, o Brasil era penta e a poupança... bem a “poupança" não estava muito bem.
20 minutos depois...
Depois de respirar, gastar a metade do papel toalha enxugando o rosto, coloquei a camisa pra dentro e sai de dentro daquele pequeno comodo do qual eu jamais me esquecerei.
Contemplei a lua, nunca a tinha visto tão grande, e nem sabia que havia tantas estrelas no céu. Subi o morro todo bem devagar e respirando lentamente aquela brisa.
Cheguei toquei a campainha. Ela me olhou e não entendeu a roupa amarrotada, o cabelo pra cima, a calça torta, a mão molhada e um belo sorriso no rosto.
- Boa noite meu bem.
- Boa, muuuito boa.


Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

Um comentário:

Eliel Vieira disse...

kkkk

essa da dor de barriga é a melhor!!!