quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O SANTO - by Timóteo Sampaio

Terezinha vinha do rio, bacia de roupas se equilibrando na cabeça, a saia comprida e os pés no chão. Fadiga para chegar rápido em casa e ainda fazer o almoço para os quatro filhos e o marido que chegaria da roça. Devota desde criança, colecionava santos de todos os tipos. Um para a saúde das crianças outro para a do marido, um para ficar pendurado no pescoço como proteção, outro na porta da casa contra ladrão. Até pra se uma das galinhas parasse de botar tinha um santinho.
Vinha pensando na vida quando sentiu os pés descalsos e úmidos do rio pisar em algo volumoso e frio. Abaixou-se colocou a trouxa no chão e pegou aquilo que pareceu ser uma estátua.
- Um santo! Exclamou.
Mas a figura não tinha um rosto ou um corpo definido. Estivera ali há anos, talves decadas, ou quem sabe os colonos quando por ali passaram não o perderam.
- Vou levar ao padre no domingo, quem sabe não é um bom santo e um bom sinal. Colocou no bolso do vestido e saiu rumo a casa.
No meio do caminho ainda pensando em quem seria aquele santo, resolveu passar no terreiro de nhá Benta, afinal ela tinha tantos santos, quem sabe não conhecia aquele.
- Dia nhá Benta
- Dia minha fia, veio se benzer?
- Não, vim trazer um santo pra ver se a senhora sabe quem é.
Tirou o santo do bolso e colocou na mão da negra Benta que olhou, analizou, coçou o queixo e a cabeça, virou-o de um lado para o outro e disse: - olha minha fia, tá parecendo um dos orixás, mas não sei identificar qual. Se pelo menos o rosto estivesse claro.
Terezinha pegou o santo deu um “brigado” colocou-o no bolso outra vez, virou-se fez o sinal da cruz e pensou consigo mesmo: Orixá? Ave cruz-credo!
Saiu dali como se tivesse visto o próprio tinhoso, pensou em jogá-lo no córrego mas não teve coragem. E se não for? No domingo o padre me fala.
Quebrou a ladeira, e lá vinda a comadre Aparecida. Ela também é devota esntende muito de santo, quem sabe ela não vai conhecer.
- Dia comadre.
- Dia.
- como tá o rio lá embaixo?
- Bem limpo e tranquilo, deu pra lavar a roupa todinha bem rápido.
- Até achei um santinho, mas não conheço ele, vê se você já
viu esse comadre. A Benta diz que é orixá, mas valha minha santa Terezinha disso. A Cida deu uma olhada, esfregou os olhos, desembaçou o óculos e os pendurou na ponta do nariz.
- Parece são Francisco, mas não há sinal de ser careca. Se
tivesse um menino poderia ser Santo Antonio, mas tá muito gordinho pra ser qualquer um dos dois. É comadre, domingo o padre descobre. Desceu a ladeira e se foi rumo a casa.
Quase chegando em casa lembrou de seu Zé. Dizem que ele não é católico, nem é da igreja de aleluia, mas tem a sua fé. Quem sabe ele não entende de santo.
Depois de longo dialogo, e de varias baforadas do seu Zé, passando pra lá e pra cá o tal santo, falou que gordinho e baixinho só podeia ser um tal de Buda.
- Buda, minha nossa senhora? Nunca ouvi dalar nesse santo. Que milagre será que ele faz, e pra que causa ele atende? Vou deixar para que o padre me esclareça no domingo.
No determinado domingo Terezinha acorda bem cedo e vai rumo à igreja, terço numa mão sacolinha na outra e o dito santo dentro. Rezou a novena fez promessa e o nome do Pai. Quando todos estavam a sair, correu na contra mão das pessoas para chegar junto ao padre.
- Padre João! Chamou ela. – padre João, presciso falar com o senhor.
- Sente minha filha, abra seu coração e não esconda nada, se quiser podemos ir ao confessório.
- Não seu padre, não será necessário, só quero te mostrar um santinho que achei quando vinha do rio. A nhá Benta diz que é um orixá. comadre Cida diz que pode ser São Franciso e seu Zé diz que é um tal de Buda. Fico com medo de pedir pro santo errado e minhas preces não serem atendidas. O senhor sabe que santo é esse?
O padre deu uma olhada naquela pequena figura, virou olhou analizou e lhe disse:
- Cara irmã Terezinha, isso é só uma carranca, despediu e com um sorriso atendeu uma jovem devota que lhe esperava.
- Terezinha colocou o santinho dentro da sacola e voltou satisfeita pra casa. Colocou a estátua entre as outra olhou alegre e saiu pro quintal.
- Agora é só descobrir a causa, e rezar pra São Carranca.




Timóteo Sampaio
timoteosampaio@hotmail.com

2 comentários:

Unknown disse...
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Ozéias disse...

Desculpa nao li mas é muito legal... rsrsrsrsrs.
Abraçao meu Rei.
Ozéias - Paris/France