sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

PONTO DE VISTA - by Timóteo Sampaio

A MÃE:
- Eu estava nos fundos da minha casa, ouvi um barulho na porta da sala, pensei a princípio que poderia ser o meu filho que havia chegado e aberto a porta. Mas veio então um segundo barulho, e com mais força ainda. Achei aquilo estranho e fui verificar o que estava acontecendo. Para minha surpresa um homem havia arrombado a porta e já estava dentro da sala. Não sei se por instinto ou por medo, gritei o nome do meu filho que mora em frente. O ladrão ficou assustado, pôs a mão na boca e disse “calma tia”, mas eu instintivamente gritei de novo.
- O ladrão então recuou, saiu para o quintal, e ia ir embora, quando deu de cara com meu filho. Foi uma coisa de cinema. Meu filho não deu tempo ao ladrão de perceber o que estava acontecendo, desceu nele a porrada, mas tão rápido, tão depressa, que foi tempo só de ver os punhos voando e o ladrão caindo. Acho que para não ser apanhado em flagra pela polícia por agressão ele rapidamente correu e entrou de novo na casa dele.

O VIZINHO:
- Ouvi a mãe do rapaz chamando por ele. Ouvi quando ele abriu o portão e os passos apressados indo em direção a casa dela. Mas quando abri o portão ele já estava de volta. Nervoso, sem olhar para trás abriu o portão da casa dele e entrou sem fechar. Então eu vi o outro homem caído no quintal da casa da minha vizinha, mãe dele.
- Deve ser algum amigo que estava lá, passou mal e a mãe gritou o filho para ajudá-la a socorrer.
O LADRÃO:
- Estava passando na rua, quando vi uma senhora chegando em uma janela com grade, e dizendo: - Jesus, tem misericórdia de mim. Olhou para um lado para o outro e repetiu: - Jesus, tem misericórdia de mim.
- Imaginei que ela estava com problemas, quem sabe sozinha trancada pelo marido, até mesmo sofrendo alguma violência doméstica. Entrei pelo portão que não estava trancado e fiquei parado na porta ouvindo. Novamente a mulher repetiu: - Jesus, tem misericórdia de mim. Não tive dúvidas, arrombei a porta para ver o que estava acontecendo. Para minha surpresa a mulher, veio com uma vassoura na mão, quando me viu gritou pelo nome de alguém. Pedi para que ela não gritasse, mas antes que eu pudesse falar para ela que eu não era ladrão, ela gritou outra vez o mesmo nome. Imaginando que ela estava com alguém, e que mesmo que estivesse apanhando ou sei lá o que não me ouviria, virei as costas para ir embora. Mas antes que pudesse pensar, vi uns punhos nervosos me nocauteando e acordei no SAMU com um monte de polícia ao meu lado. Mais tarde fui saber que a mulher era evangélica e ficava orando alto sozinha dentro de casa, e que o filho dela que me nocauteou.
O FILHO:
- Estava tranqüilo no computador da minha casa fazendo alguns trabalhos, numa vontade imensa de ir ao banheiro, mas como estava dentro de casa mesmo, deixei a vontade apertar até não agüentar mais. Quando já estava para explodir, fui em direção ao banheiro. Com as calças nos tornozelos ouvi minha mãe que mora ao lado me gritar.
- Caraca! Tinha que ser logo agora? Termino e vou lá. Mas na hora que eu ia... olha minha mãe gritando de novo. E um grito de aflição. Subi as calças com o olho arregalado, e a veia do pescoço quase estourando. Cheguei na varanda da minha casa, e olhei para a casa da minha mãe, vi um camarada saindo da sala e ela atrás dele. Ladrão, só pode ser, pensei. Sem pensar duas vezes, corri abri o portão e atravessei a rua. No meio da rua minha barriga me lembrou o estado em que eu estava. Quando cheguei no quintal da minha mãe, dei de cara com o ladrão, duas vezes maior que eu. Não teve jeito, fiz nas calças.
- Só que o susto foi tão grande, que enquanto as coisas desciam eu esbofetei o cara. Olhei para fora, meu vizinho já ia abrindo o portão. Saí correndo pra minha casa outra vez. É ruim de eu deixar ele me ver todo “marronzado” heim.